Regulação responsiva e o uso de defensivos agrícolas: Uma análise sob a perspectiva do agricultor
DOI:
https://doi.org/10.21527/2237-6453.2024.60.15321Palavras-chave:
regulação responsiva, agricultura sustentável, agrotóxicos, defensivos, sustentabilidadeResumo
Este estudo busca entender como agricultores justificam a manutenção ou substituição de agrotóxicos nas práticas de cultivo e para isso examina as razões e justificativas de dois grupos de agricultores. Por meio de abordagem qualitativa, foram feitas entrevistas com dez de agricultores de dois municipios: um que utiliza predominantemente agrotóxicos, outro que vem aderindo a práticas de cultivo sustentável. Nossos resultados apontam uma hegemonia da indústria de agrotóxicos que está sustentada na perceção dos agricultores de que os produtos químicos são o método mais ‘eficiente’ de cultivo. Essa hegemonia se baseia na forma como a indústria promove o uso de agrotóxicos e pela relativa ausência de informações sobre alternativas de cultivo. Esses fatores fazem com que o agricultor permaneça atrelado ao uso de produtos químicos, dificultando a adesão por opções mais sustentáveis. Assim, este artigo contribui para o debate sobre a política regulatória de agrotóxicos ao analisar as percepções de agricultores e indicar a existência de uma predisposição em adotar formas mais sustentáveis de cultivo, desde que os benefícios e a viabilidade econômica dessa adoção sejam demonstrados. Com isso, verifica-se a necessidade de uma política regulatória mais responsiva, em proximidade aos regulados, bem como a construção de uma infraestrutura de disseminação de informações, espaços de diálogo, troca de experiências e suporte técnico para os interessados em aderir a práticas sustentáveis de cultivo.
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