Apropriação de terras públicas, intensificação química da produção e alternativas bioeconômicas no agrário amazônico: o caso da região de Carajás
DOI :
https://doi.org/10.21527/2237-6453.2025.63.17003Mots-clés :
Amazônia, Carajás, economia agrária, trajetórias tecnológicasRésumé
Este estudo caracteriza as rápidas mudanças na estrutura da economia agrária da região de Carajás, evidenciando como tais transformações incidem nas relações entre agentes econômicos, instituições, usos da terra e nos impactos ambientais associados. A metodologia, fundamentada em análises estatísticas e dados dos Censos Agropecuários de 1995/96, 2006 e 2017, possibilitou identificar trajetórias produtivas diferenciadas, organizadas entre segmentos patronais e camponeses, destacando a predominância da pecuária bovina, a emergência de cultivos de grãos e a conversão de terras públicas em áreas privadas de produção. Entre os resultados, destaca-se o papel central da intensificação do uso de insumos químicos, especialmente fertilizantes nitrogenados, como motor do aumento da produtividade monetária da terra (PTR). Essa intensificação, porém, está relacionada à maior geração de emissões de óxido nitroso (N₂O) — gás de efeito estufa com potencial de aquecimento global centenas de vezes superior ao do dióxido de carbono (CO₂) — reforçando a contribuição da produção regional para o aquecimento global. Por fim, as conclusões ampliadas indicam que romper com esse padrão exige políticas que limitem a apropriação de terras públicas, estimulem o uso de bioinsumos e incentivem alternativas tecnológicas baseadas na biodiversidade amazônica, capazes de diversificar e tornar mais sustentável a produção agrária.
Références
ASSIS, W. S. A construção da representação dos trabalhadores rurais no sudeste paraense. 2007. Tese (Doutorado em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade) – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.
BAUMOL, W. J.; QUANDT, R. E. Rules of thumb and optimally imperfect decisions. The American Economic Review, v. 54, n. 2, p. 23-46, 1964. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/1810896. Acesso em: 12 jul. 2025.
BOURSCHEIDT, V. et al. Inoculação de Azospirillum brasilense em gramíneas forrageiras para recuperação de pastagens degradadas. Pesquisa Agropecuária Tropical, Goiânia, v. 49, p. e54462, 2019. DOI: https://doi.org/10.1590/1983-40632019v4954462
BOYER, R. Formalizing growth regimes. In: DOSI, G.; FREEMAN, C.; NELSON, R.; SILVERBERG, G.; SOETE, L. (Org.). Technical change and economic theory. Londres: Pinter, 1988. p. 608-630.
BUSTAMANTE, M. M. C. et al. Estimating greenhouse gas emissions from tropical agriculture: current status, challenges and opportunities. Environmental Research Letters, v. 9, n. 11, p. 1–11, 2014. DOI: https://doi.org/10.1088/1748-9326/9/11/115003
CALIGARIS, L. S. et al. Bioinsumos na agricultura tropical: avanços, oportunidades e desafios para a produção sustentável. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v. 47, e0230013, 2023. DOI: https://doi.org/10.36783/18069657rbcs20230013
CHEW, J. Y. et al. Bioinoculants for sustainable agriculture: current status and prospects. Agronomy, Basel, v. 13, n. 2, p. 1–24, 2023. DOI: https://doi.org/10.3390/agronomy13020436
CHULAN, A.; MARTIN, K. The vesicular-arbuscular (VA) mycorrhiza and its effects on the growth of vegetatively propagated Theobroma cacao L. Plant and Soil, v. 144, p. 227–233, 1992. DOI: https://doi.org/10.1007/BF00012879
COSTA, F. d. A. Mercado de terras e trajetórias tecnológicas na Amazônia. Economia e Sociedade, v. 21, p. 245-273, 2012. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-06182012000200002
COSTA, F. d. A. O investimento na economia camponesa: considerações teóricas. Revista de Economia Política, v. 15, n. 1, p. 84-101, 1995. DOI: https://doi.org/10.1590/0101-31571994-0766
COSTA, F. d. A. Structural diversity and change in rural Amazonia: a comparative assessment of the technological trajectories based on agricultural censuses (1995, 2006 and 2017). Nova Economia, v. 31, p. 415-453, 2021. DOI: https://doi.org/10.1590/0103-6351/6373
COSTA, F. d. A. Trajetórias tecnológicas como objeto de política de conhecimento para a Amazônia: uma metodologia de delineamento. Revista Brasileira de Inovação, v. 8, n. 1, p. 35-86, 2009. DOI: https://doi.org/10.20396/rbi.v8i1.8648975
CUENCA, G.; HERRERA, R.; MENESES, E. Effects of VA mycorrhiza on the growth of cacao seedlings under nursery conditions in Venezuela. Plant and Soil, v. 126, p. 71–78, 1990. DOI: https://doi.org/10.1007/BF00041370
DAVIDSON, E. A.; BUSTAMANTE, M. M. C.; PINTO, A. S. Emissions of nitrous oxide and nitric oxide from soils of native and exotic ecosystems of the Amazon and Cerrado regions of Brazil. The Scientific World Journal, v. 1, supl. 2, p. 312–319, 2001. DOI: https://doi.org/10.1100/tsw.2001.261
DOSI, G. Technological paradigms and technological trajectories: a suggested interpretation of the determinants and directions of technical change. Research Policy, v. 11, n. 3, p. 147-162, 1982. DOI: https://doi.org/10.1016/0048-7333(82)90016-6
EMMI, M. F. A oligarquia do Tocantins e o domínio dos castanhais. Belém: NAEA, 1999.
EMMI, M. F.; MARIN, R. E. A.; BENTES, R. d. S. Polígono Castanheiro do Tocantins: espaço contestado de oligarquias decadentes. Pará Agrário, n. 2, p. 12-21, 1987.
HALL, A. L. Amazônia: desenvolvimento para quem? Desmatamento e conflito social no Programa Grande Carajás. Rio de Janeiro: J. Zahar Editor, 1991.
HAYAMI, Y.; RUTTAN, V. W. Desenvolvimento agrícola: teoria e experiências internacionais. Rio de Janeiro: Embrapa, 1988.
HÉBETTE, J. et al. Cruzando uma zona de fronteira em conflitos: o leste do médio Tocantins. In: HÉBETTE, J. (Org.). Cruzando a fronteira: 30 anos de estudo do campesinato na Amazônia. Vol. 2. Belém: Edufpa, 2004. p. 51-128.
HUNGRIA, M. et al. Inoculation of Brachiaria spp. with the plant growth-promoting bacterium Azospirillum brasilense. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 45, n. 12, p. 814–821, 2016. DOI: https://doi.org/10.1590/S1806-92902016001200003
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário 1995-1996 – Pará. Rio de Janeiro: IBGE, 1998.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário 2006. Rio de Janeiro: IBGE, 2009.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário 2017. Rio de Janeiro: IBGE, 2019.
IPCC – INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE. Climate Change 2021: The Physical Science Basis. Contribution of Working Group I to the Sixth Assessment Report of the IPCC. Cambridge: Cambridge University Press, 2021. DOI: https://doi.org/10.1017/9781009157896
KAH, M.; KOOKANA, R. S.; GOGOS, A.; BUCHELI, T. D. A critical evaluation of nanopesticides and nanofertilizers against their conventional analogues. Nature Nanotechnology, v. 13, n. 8, p. 677–684, 2018. DOI: https://doi.org/10.1038/s41565-018-0131-1
KEYNES, J. M. Teoria geral do emprego, do juro e do dinheiro. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
KWASHIE, G. K. S. et al. Synergic effect of arbuscular mycorrhizal fungi and potassium fertilizer improves biomass-related characteristics of cocoa seedlings to enhance their drought resilience and field survival. Open Agriculture, v. 8, n. 1, p. 20220239, 2023. DOI: https://doi.org/10.1515/opag-2022-0239
LAGE FILHO, N. M. et al. Land use, temperature, and nitrogen affect nitrous oxide emissions in Amazonian soils. Agronomy, v. 12, n. 7, p. 1608, 2022. DOI: https://doi.org/10.3390/agronomy12071608
MARTINS, J. S. Os camponeses e a política no Brasil: as lutas sociais no campo e seu lugar no processo político. Petrópolis: Vozes, 1995.
MICHELOTTI, F. Territórios de produção agromineral: relações de poder e novos impasses na luta pela terra no sudeste paraense. 2019. Tese (Doutorado em Planejamento Urbano e Regional) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.
MICHELOTTI, F.; MIRANDA, H.; GOMES JÚNIOR, E. Ajuste espacial e temporal na Amazônia: reflexões sobre fronteira do capital e des-re-configurações territoriais. Novos Cadernos NAEA, v. 25, n. 4, p. 65-86, 2022. DOI: https://doi.org/10.18542/ncn.v25i4.13082
MIRBAKHSH, M. Role of nano-fertilizer in plants nutrient use efficiency (NUE): a mini-review. arXiv preprint arXiv:2301.09697, 2023. DOI: https://doi.org/10.48550/arXiv.2301.09697
MONTEIRO, M. A. Crescimento econômico e competitividade espúria na Amazônia: o caso da região de Carajás. Novos Cadernos NAEA, v. 25, n. 4, p. 333-363, 2022. DOI: https://doi.org/10.18542/ncn.v25i4.13035
MONTEIRO, M. A.; SILVA, A. Dados do agrário amazônico classificados por trajetória tecnológica: região de Carajás, 1996. Dataset – figshare, 2023a. Disponível em: https://doi.org/10.6084/m9.figshare.22298998.v1. Acesso em: 12 jul. 2025.
MONTEIRO, M. A.; SILVA, A. Dados do agrário amazônico classificados por trajetória tecnológica: região de Carajás, 2017. Dataset – figshare, 2023b. Disponível em: https://doi.org/10.6084/m9.figshare.22272193.v2. Acesso em: 12 jul. 2025.
MONTEIRO, M. A.; SILVA, R. P. Expansão geográfica, fronteira e regionalização: a região de Carajás. Confins [Online], n. 49, 16 mar. 2021. DOI: https://doi.org/10.4000/confins.35296
SAMANTARAY, A. et al. Advances in microbial based bio-inoculum for amelioration of soil health and sustainable crop production. Current Research in Microbial Sciences, v. 5, p. 100251, 2024. DOI: https://doi.org/10.1016/j.crmicr.2024.100251
SEEG – SISTEMA DE ESTIMATIVAS DE EMISSÕES E REMOÇÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA. Emissões de Gases de Efeito Estufa no Brasil (1970–2022). Observatório do Clima, 2024. Disponível em: https://seeg.eco.br/. Acesso em: 12 jul. 2025.
SIGNOR, D.; CERRI, C. E. P. Nitrous oxide emissions in agricultural soils: a review. Pesquisa Agropecuária Tropical, v. 43, p. 322–338, 2013.
SILVA, F. F. S. et al. Productive performance of Brachiaria brizantha cv. Paiaguás under different inoculation techniques of Azospirillum brasilense and nitrogen rates in the Brazilian Amazon. Agriculture, v. 6, n. 2, p. 47, 2023. DOI: https://doi.org/10.3390/agrisci6020047
SMITH, P. et al. Greenhouse gas mitigation in agriculture. Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences, v. 363, n. 1492, p. 789–813, 2012. DOI: https://doi.org/10.1098/rstb.2007.2184
SYAKILA, A.; KROEZE, C. The global nitrous oxide budget revisited. Greenhouse Gas Measurement and Management, v. 1, n. 1, p. 17–26, 2011. DOI: https://doi.org/10.3763/ghgmm.2010.000
Téléchargements
Publié-e
Comment citer
Numéro
Rubrique
Licence
© Maurílio de Abreu Monteiro 2025

Cette œuvre est sous licence Creative Commons Attribution 4.0 International.
Ao publicar na Revista Desenvolvimento em Questão, os autores concordam com os seguintes termos:
Os trabalhos seguem a licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), que permite:
Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer meio ou formato;
Adaptar — remixar, transformar e criar a partir do material para qualquer fim, inclusive comercial.
Essas permissões são irrevogáveis, desde que respeitados os seguintes termos:
Atribuição — Atribuição — os autores devem ser devidamente creditados, com link para a licença e indicação de eventuais alterações realizadas.
Sem restrições adicionais — não podem ser aplicadas condições legais ou tecnológicas que restrinjam o uso permitido pela licença.
Avisos:
A licença não se aplica a elementos em domínio público ou cobertos por exceções legais.
A licença não garante todos os direitos necessários para usos específicos (ex.: direitos de imagem, privacidade ou morais).
A revista não se responsabiliza pelas opiniões expressas nos artigos, que são de exclusiva responsabilidade dos autores. O Editor, com o apoio do Comitê Editorial, reserva-se o direito de sugerir ou solicitar modificações quando necessário.
Somente serão aceitos artigos científicos originais, com resultados de pesquisas de interesse que não tenham sido publicados nem submetidos simultaneamente a outro periódico com o mesmo objetivo.
A menção a marcas comerciais ou produtos específicos destina-se apenas à identificação, sem qualquer vínculo promocional por parte dos autores ou da revista.
Contrato de Licença (para artigos publicados a partir de 2025): Os autores mantêm os direitos autorais sobre seu artigo, e concedem a Revista Desenvolvimento em Questão o direito de primeira publicação.









