Saúde mental e o trabalho dos agentes de combate às endemias na pandemia de covid-19
DOI:
https://doi.org/10.21527/2176-7114.2025.50.15133Palavras-chave:
saúde do trabalhador, transtornos mentais, controle vetorialResumo
O presente estudo teve como objetivo investigar a ocorrência de transtornos mentais comuns em Agentes de Combate às Endemias (ACE) do estado do Rio de Janeiro e a relação com as condições de saúde e trabalho no contexto da pandemia de COVID-19. Métodos: Estudo transversal inspirado no Modelo Operário Italiano (MOI) e, portanto, com a participação de trabalhadores e sindicatos da categoria. Os dados foram coletados por meio de um questionário multidimensional autopreenchido (on-line) que incluía, o Self-Report Questionnaire (SRQ) para triagem de transtornos mentais comuns (TMC), a partir de uma amostra de 139 participantes. Foram realizados os testes qui-quadrado de Pearson e exato de Fisher na análise estatística. Resultados: Verificou-se que 43,2% dos ACE apresentaram suspeição de TMC, associados ao sexo (p ≤ 0,04), demanda por profissionais de saúde mental (p ≤ 0,021) e diferentes queixas pré-pandêmicas relacionadas à saúde mental (p ≤ 0,00). Durante os primeiros meses da pandemia, mais de 80% dos ACE estavam trabalhando; 6,5% relataram ideação suicida e 15,8% depressão. A pesquisa permitiu ações de acolhimento e acompanhamento dos trabalhadores em tempo real e criou um espaço para diálogos sobre saúde mental e trabalho, sobretudo no contexto de pandemia. Conclusão: A investigação possibilitou identificar demandas dos ACE no que se refere à saúde mental. Mesmo sendo uma classe majoritariamente masculina, observaram-se diferenças importantes na repercussão da pandemia sobre a saúde mental das mulheres e dos trabalhadores que precisaram atuar no enfrentamento à COVID-19. É fundamental o acompanhamento dessa população diante da exposição aos agrotóxicos.
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