“Nosso povo nunca morre, nossa raiz nos salvará”: Violações de direitos, imposição de marcadores coloniais e a luta pelo território, desde a memória oral do povo indígena Pankararu
DOI:
https://doi.org/10.21527/2317-5389.2025.25.16208Palavras-chave:
Memória oral, Violações de Direitos, Povo Indígena Pankararu, ResistênciaResumo
Esta pesquisa objetiva compreender, a partir da memória oral de lideranças indígenas, o contexto histórico de violações de direitos a qual esteve submetido o Povo Indígena Pankararu. O objetivo geral do estudo é analisar o que revela a memória oral de lideranças indígenas Pankararu sobre o processo de aldeamento e presença do SPI, a imposição de marcadores coloniais e o posterior processo de luta pela garantia do território. Dentre os achados da pesquisa destaca-se a influência das técnicas estatais de controle social, e consequentemente de aculturação sobre o povo Pankararu através do aldeamento e, posteriormente, do Serviço de Proteção ao índio (SPI), nas dinâmicas internas do povo. Revela-se aspectos do projeto colonial que não cessou com o tempo, mas, ao revés, foram perpetuadas novas roupagens da violência colono-estatal. A imposição da cultura branca, através do catolicismo e do autoritarismo, e as consequências do processo de apagamento da interculturalidade do povo indígena Pankararu, também são aspectos observados. Nesse ínterim, uma crítica às novas formas de imposição, desta vez, pela religião protestante, é dimensionada a partir da negação da religiosidade e cultura por integrantes do povo. E, por fim, destaca-se a árdua luta histórica do povo Pankararu pelo seu território historicamente ocupado, na proteção de sua identidade, raízes e ancestralidade. O território, extremamente importante para a sobrevivência da comunidade indígena Pankararu, é uma garantia que segue em disputa diante das violências históricas e institucionais com as quais ainda convivem.
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